Atravesse o Óbvio

Quando lanço a minha rede  Não pego peixe nenhum Sou um pescador diferente Navego sobre palavras  Pesco poemas  Outro dia mesmo  Perto do poção trouxe lá do fundo um Drummond Perto da Prainha De anzol puxei um Pessoa  Na curva do Saluca  De fisga peguei uma Clarisse Armei também uma malhadeira  Na entrada do igapó Aí foi uma festa só Veio Bandeira, Cecília, Leminski... No Cacuri  Quando fui conferir  Tinha lá uma Coralina  e até um João Cabral de Melo Neto Eu sempre jogo minha tarrafa  No afã de trazer poesias  No rio dos versos Pescando poemas  Vou curando feridas  Pescando poemas  Vou alimentando a vida.

 Ontem, Agorinha eu tinha cinco anos. Brincava e chorava Não largava da minha mãe  Pisquei os olhos e passaram-se dez anos  Já mais grandinho  o negócio era jogar bola Corria o dia inteiro  Vídeo game  Pira-se-esconde  Peteca  Pipa Quando acordei já tinha quinze  O corpo mudou um pouquinho O mundo já crescerá um pouco mais  Estudo Muito estudo  Planos  Namorinhos  Aos trinta a coisa já era outra  Riscos e marcas do tempo  Cicatrizes no corpo e na alma Quem era eu?  Música  Cultura  Sociedade Trabalho Relacionamento. Cheguei aqui  Trinta e cinco  Quem sou eu agora?  Terapia Reflexões Medo  Coragem Textos  Renascimento Agora nesse momento Eu continuo sendo  Buscando  Eu continuo morrendo E renascendo

Nada impede reconhecer que existe amor Assim como nada impede reconhecer que só o amor não é suficiente 

Te amo, hoje.  Te amarei amanhã...  Depois de amanhã não me pertence mais, tá longe ainda....