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Talvez eu seja um homem fora de moda, quem sabe?

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  Talvez eu seja um homem fora de moda, quem sabe?  Mas é o que eu acho que pensam sobre mim. Os amigos me cobram curtição! Como pode alguém nas minhas condições não estar aproveitando a vida!? E eu entendo eles! É o que diz o mundo: Aproveite a vida! Viva intensamente! Consuma bens e consuma pessoas! Desapegue-se de tudo e se jogue no fluxo infinito do desejo. Não nego que tento me adaptar e seguir a norma. Eu até tento, mas acho o fim da noite e do rolê tão vazio. Sabe a hora que tudo acaba? A hora que faz silêncio? A hora que tu fica sozinho na cama? Esse é meu problema, não consigo me preencher com essa coisa rasa e rápida do "curtir a vida"! Não digo que isso não sirva, serve! Mas só por um tempo! Depois tudo vai esvaziando e a solidão vai tomando conta e o sorriso já não vem mais como vinha antes.  Talvez seja um erro cafona, mas eu acredito que no amor há mais colorido. Ter alguém junto, se sentir melhor naquela companhia. Conversar, abraçar, dar as mãos, dançar aquel

Eu ainda me lembro

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Eu me lembro daquele tempo ainda  Quando éramos jovens e livres  Corríamos sem medo pela mata  Entravamos no igapó  Com a água às vezes na canela  E aquele cheiro de lama  Aquela água podre, parada e de tantas cores  Até hoje não sei o que era aquilo  Mas não havia barreiras  Éramos aventureiros  Eu ainda me lembro dos pulos no trapiche  Dos vôos de cabeça  Do camborão cabeça, da pedra e da piscina  Tinha que subir água  Tinha que ter chuveirinho  Água no ar feito chuva  Era tanta alegria  Nem a pele enrugada nos tirava da água Nem o medo do boto nos punha pra correr  Nada, absolutamente nada era mais importante Eu me lembro daquele sentimento Daquele sentido de estar vivo  Da pira cola  Dos dois times imensos  Do cipó Da brincadeira do "mata" "Bora um mata" dizia alguém E tudo aquilo tomava uma tarde inteira Eu ainda me lembro dessas coisas  Dessa fase Dessa época Daquela leveza e imortalidade Sim! Éramos Deuses imortais  Não conhecíamos o medo e o perigo  Corríamo

Mês de janeiro em Irituia

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Não sei como é o mês de janeiro pras bandas daí de vocês, mas por aqui é sinônimo de dança, gengibirra, barracão e do ressoar dos curimbós. É uma tradição cuja origem se perde e se mistura com a história do nosso município.  Chega a ser curioso nosso enlace com essa cultura e com a festa que se comemora em função dela. Antes, nosso festival era ligado ao santo preto, São Benedito, o santo do nosso povo Paqué, porém, depois de muitos anos e de uma decisão da igreja, resolveram separar o religioso do profano, e a festa que era de São Benedito passou a ser chamada de Festival do carimbó irituiense. O nosso festival é grande, de ehncher os olhos de quem chega por aqui desavisado. O batuque dos grupos é em cima do palco e a dança é dentro do barracão de palha construído todo ano na praça. O irituiense só dança o carimbó se for embaixo do barracão, rodando, girando, em pares ou sozinho, mas sempre por baixo da palha. Chove fora e molha dentro, mas ninguém se importa, tudo é festa, tudo é uma

Enquanto o mundo acaba

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Enquanto o mundo está acabando, a delegação de um famoso time de futebol está em viagem para fazer um jogo fora de seu Estado. Outro dia morreu a mãe do roupeiro do time e o pobre não pôde nem se despedir direito, já que o enterro é feito às pressas e de caixão fechado. Enquanto o mundo está aos frangalhos lá fora, o pessoal da minha cidade continua fingindo que tá tudo bem e reúne-se para fazer um churrasquinho no fim de semana, só os mais chegados, coisa de quinze pessoas, o problema é que eles esqueceram que a vizinha cuida da mãe já idosa, teme por sua saúde. Enquanto o mundo desaba lá fora, os classe média resolveram pegar uma praia neste domingo tranquilo. Eles alegam que vão respeitar o "distanciamento", só esqueceram de combinar com as outras dezenas de milhares de pessoas na areia da praia. Enquanto o mundo padece lá fora, você, e eu, que não perdeu ninguém nesses tempos sombrios, não sabe ao certo o que tá acontecendo. A gente não tem ideia do que é ver um conhecido

Na gaveta

Nunca imaginei que viria parar aqui onde estou agora. No escuro. Perdida. Sem sentido de ser.  Eu que vim que de tão longe, raptada das serras, retirada aos pedaços do chão.  Meu brilho já não causa mais beleza, virei tristeza. Sou hoje uma lembrança que se quer esquecer, mas não se esquece e ele sabe disso. Ele poderia ter me jogado fora, vendido, dado, mas não, guardou-me.  Já não saio. Já não represento.  Sou uma memória com forma, preço e cor.  Sem a carne dele por dentro, eu apenas pereço.  E quanto mais passa o tempo, mais esperança eu perco.  Já não há mais choro. Foram-se meses. Não há mais nada que lembre o ocorrido, só eu. Apenas eu, aqui esquecida. Até quando? 

Birds

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 Sou fascinado por uma palavra.  Trata-se de admiração e culpa. É o som dela e o para onde ela me leva a causa.  Tinha doze anos, talvez menos. A palavra, encarcerada em seu diminutivo, chorava e eu achava lindo. Fui seu carrasco por anos. Nem as belas paisagens por onde a carreguei me tira a culpa. Saíamos cedinho. Neblinava quase sempre. Pensando aqui eu posso até sentir o cheiro do mato molhado. Havia restos de árvores queimadas pelo chão.  Negro, cinza e verde compunham aquela paisagem. Eu demorei para entender que estava errado. E o tempo foi tanto que a consciência chegou muito depois da minha mudança. Em um dado momento parei, mas foi apenas um abandono. Sem reflexão!  Passados janeiros.  Chegada a poesia.  Aí sim. Entendi: “Não há amor sem liberdade”. “Não se pode admirar um pranto”.  “Eu não cuidava, eu judiava, pois prendia”.  Quando a mudança tornou-se realmente consciente e profunda, lembro bem do dia “D”. Nessa altura eu já era o prisioneiro desse passado inconsciente. A m

Ninguém é especial!

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Parece estranho ler isso? Pois me parece que é assim que a maioria se comporta! Como se fosse alguém especial, ou intocável! A negação perante a realidade que deseja criar a ilusão de que se é a única pessoa que não vai adoecer, ou morrer, em meio ao caos epidêmico que estamos, é um sintoma psicológico compreensivo. Negamos veementemente aquilo que é difícil de aceitar. Talvez seja o medo que faça com que quem perdeu um amigo, ou um parente, ou apenas um conhecido, continue sendo irresponsável consigo mesmo e com seus próximos. Um medo profundo que é impedido de emergir e se transformar em cuidado. Um medo de ceder ao racionalmente necessário e ainda assim não ser o suficiente. Ou seria, talvez, quem sabe, o medo de fazer o necessário e ainda assim adoecer e morrer! E se a morte é certa, talvez se pense, "por que se aquietar se ainda gozo de plena saúde e tesão pela minha vida?"  Pois nesse momento eu prefiro ter medo, pois o medo pode salvar, se não a mim ao outro, pois se t