Mês de janeiro em Irituia

Não sei como é o mês de janeiro pras bandas daí de vocês, mas por aqui é sinônimo de dança, gengibirra, barracão e do ressoar dos curimbós. É uma tradição cuja origem se perde e se mistura com a história do nosso município. 

Chega a ser curioso nosso enlace com essa cultura e com a festa que se comemora em função dela. Antes, nosso festival era ligado ao santo preto, São Benedito, o santo do nosso povo Paqué, porém, depois de muitos anos e de uma decisão da igreja, resolveram separar o religioso do profano, e a festa que era de São Benedito passou a ser chamada de Festival do carimbó irituiense.

O nosso festival é grande, de ehncher os olhos de quem chega por aqui desavisado. O batuque dos grupos é em cima do palco e a dança é dentro do barracão de palha construído todo ano na praça. O irituiense só dança o carimbó se for embaixo do barracão, rodando, girando, em pares ou sozinho, mas sempre por baixo da palha. Chove fora e molha dentro, mas ninguém se importa, tudo é festa, tudo é uma grande dança de roda.

Eu já dancei muito carimbó nesse barracão. Olhando as fotos, não tem como não desenhar um sorriso no rosto. Quanta alegria! A roda de carimbó é quente e sempre gira no sentido anti-horário, acredita? Eu costumo falar que quem vai pra dançar não deve se arrumar muito, porque basta uma rodada lá dentro pra se molhar de suor e desarrumar qualquer penteado. Carimbó é corpo e alma, é gengibirra, é dor na perna, é dor na costa, é um sobe e desce e gira e grita. Carimbó é coisa de velho, de novo, de jovem e de neném de colo que nem sabe andar ainda. 

Mas que saudade de dançar um carimbó! A pandemia engoliu nosso janeiro e na verdade não sabemos que dia, mês ou ano poderemos ter fotos como essas, onde se encontra tanta gente junta se roçando, se esfregando, se derretendo, gente junta sendo feliz sem medo e sem receio disso ser letal. Portanto, o melhor agora é esperar e guardar fôlego para a volta desse festival. A vacina tá chegando, devagar, mas tá chegando, nossos idosos primeiro, depois vem todo o resto. Uma vez vacinado, e com a certeza de que vencemos esse mal, eu quero me estragar novamente nesse transe ancestral que é nosso batuque de carimbó.


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