Eu ainda me lembro




Eu me lembro daquele tempo ainda 

Quando éramos jovens e livres 

Corríamos sem medo pela mata 

Entravamos no igapó 

Com a água às vezes na canela 

E aquele cheiro de lama 

Aquela água podre, parada e de tantas cores 

Até hoje não sei o que era aquilo 

Mas não havia barreiras 

Éramos aventureiros 


Eu ainda me lembro dos pulos no trapiche 

Dos vôos de cabeça 

Do camborão cabeça, da pedra e da piscina 

Tinha que subir água 

Tinha que ter chuveirinho 

Água no ar feito chuva 

Era tanta alegria 

Nem a pele enrugada nos tirava da água

Nem o medo do boto nos punha pra correr 

Nada, absolutamente nada era mais importante


Eu me lembro daquele sentimento

Daquele sentido de estar vivo 

Da pira cola 

Dos dois times imensos 

Do cipó

Da brincadeira do "mata"

"Bora um mata" dizia alguém

E tudo aquilo tomava uma tarde inteira


Eu ainda me lembro dessas coisas 

Dessa fase

Dessa época

Daquela leveza e imortalidade

Sim!

Éramos Deuses imortais 

Não conhecíamos o medo e o perigo 

Corríamos feito loucos entre as árvores 

Mergulhavamos por baixo das tronqueiras

E nos jogávamos do auto das árvores 


Ainda lembro 

E é bom lembrar

Não sei até quando

Não sei o por quê

Eu ainda sinto aquilo quando lembro

Aquela energia 

Aquela vontade 

Aquele desejo de ser conhecido como Boto 

Aquele desejo de ter guelras 

De ficar um bom tempo lá em baixo

Eu ainda me lembro de tudo 

Ainda me lembro...

 


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