Tuiá Poranga me colocou em crise existencial/cultural

Confesso que estava preocupado e muito refletir sobre o que estava por vim esse ano do Tuiá Poranga. Um grupo com uma grande história no festival da cultura IRITUIENSE e que sempre foi de surpreender ao público com sua criatividade e suas raízes na cultura irituiense e até então amazônica. Pois esse ano o Tuiá resolveu ampliar seu conceito de atuação na cultura, mostrando que sua arte está para além do local e mesmo do regional. Mergulharam, e eu já sabia disso antes da apresentação, "nas veias abertas da América Latina" e trouxeram a lembrança de que nós - irituienses e brasileiros - fazemos parte de um grande continente latino, cujo ritmo e a dança estão dispersos e se comunicam em um lugar em que não há fronteiras entre o local e o global/regional. Porém, eu estava preocupado. Como defensor da nossa cultura irituiense, mais legítima possível, eu estava preocupado com essa viagem latina em que eles se propuseram a fazer. Questionava-me sobre essa relação entre o que é "nosso" e o que é "deles", o que é cultura irituiense e qual o objetivo do festival? Devem nossos grupos se apegarem ao local, ou é importante expandir cada vez mais para o global? Esses questionamentos foram temas de muitas conversas pré-festival e que ontem, diante da bela apresentação do Grupo, fizeram-me mais uma vez pensar no conceito de cultura popular e outras questões me vieram a mente. Essa apresentação de ontem acabou por me fazer lembrar que somos latinos, comungamos nesse grande continente da mesma história de exploração e domínio europeu ao longo de pelos menos 500 e poucos anos. Somos uma grande aldeia de povos cuja ancestralidade é indígena e que a herança cultural está difundida na música e na dança. Realmente não há pureza cultural. Somos produtos de uma grande mistura de povos produtores de culturas e diversidade, o Tuiá fez bem o que fez e eu tô aqui ainda pensando em quem sou eu afinal? Irituiense carimbozeiro, paraense da guitarrada, ou um "rapaz latino americano sem dinheiro no bolso"? No mais, parabenizo o Tuiá Poranga pelo espetáculo e pela resistência de sempre em fazer acontecer mesmo quando o fim parece o caminho mais provável.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ninguém é especial!

Mês de janeiro em Irituia

Birds