O outro lado do rio

Quando se era moleque aqui por essas bandas
atravessar o rio Irituia era como um ritual sagrado.
Um divisor de águas em nossas vidas.
Um momento em que enfrentávamos, sozinhos,
cada um ao seu tempo, o grande medo!

O medo das águas,
O medo da morte,
O medo do boto

Atravessar o rio era como ser parte dele,
finalmente ser parte dele.
Do grande rio Irituia, de águas secas e de grandes cheias...
Do rio do peixe, da cobra, do banho, do banzeiro, do pescador...

Atravessar o rio era ser um pouco mais corajoso
só quem conseguia atravessa-lo podia chegar até o barro
O barro branco/cinza que é a argila do outro lado
Ouro e arte nas mãos dos que dela sabem se aproveitar

Do outro lado do rio era que as coisas aconteciam
boa parte da pira que se brincava ocorria do outro lado
Lá era o lado dos destemidos
das trilhas na mata
da guerra de barro...

Atravessar o rio não era só aprender a nadar
era muito mais que isso
havia uma certa mágica naquilo
lá do outro lado tinha o cipó

O cipó que depois virou corda
que virou brincadeira
que virou penca humana
que virou alegria

Tudo era do outro lado...
tudo acontecia pra lá
do lado daqui iam crescendo os próximos
os que sonhavam em ser quem estava do lado de lá

Do outro lado haviam as arvores dos pulos mais altos
talvez o maior desafio de todos
pois era preciso nadar para atravessar
escalar para subir
e coragem para pular...

Muita coisa acontecia depois que se atravessava
era lá do outro lado que o rio vibrava
do lado daqui, que era de graça,
não tinha nada

Essa travessia já ensinava o que era parte da vida
essa coragem de ir além
de enfrentar os medos
atravessar era mudar...

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