Saudade do carimbó de Irituia



Quando vai chegando janeiro
vai dando logo uma cuira nas pernas
sabe-se de longe que chegou a hora
Cortam-se os paus e as palhas
Fincam-se os paus
Trançam-se as palhas
Já chegará também as chuvas
por isso o barracão de palha

De longe o irituiense,
filho da terra que foi à luta
sofre do banzo,
da mesma tristeza do negro arrancado de casa
Banzo é tristeza e saudade da terra
um sentimento quase de doença na alma
é assim o carimbó pra quem tá longe
Um relembrar triste das grandes alegrias das festas

Soltos mundo a fora,
os irituienses crescem
compram suas coisas,
batalham, casam, criam seus filhos,
criam e realizam sonhos...
Amadurecem.
Mas quando chega janeiro
é sempre a mesma coisa
o banzo aparece

Uma saudade daquela gente
daquele batuque
do canto desafinado do mestre
da rima das coisas da terra
do cheiro das coisas da terra

Começa o carimbó na sexta
e o tempo parece embaralhar-se
ao fechar os olhos o irituiense sonha acordado
rodopiando e descendo ao chão
girando em torno da dama
percorrendo todo salão
entre tantas pessoas
senhoras, velhos, jovens, crianças e adultos
saias rodadas, camisas estampadas, chapéus de palha
suor, bebidas, fitas, poeira, calor... 
tudo junto girando,
todos cantando
o mundo e a vida está ali acontecendo
significando tudo, embelezando tudo...

A lágrima desce...
é saudade arrombando o peito
como o som dos tambores rompendo o ar
O irituiense sofre, padece
Mas continua sua jornada
ele pretende um dia voltar
quem sabe em janeiro
na hora do mastro
por baixo de chuva
com sua gengibirra na mão

Enquanto esse dia não chega
ele fica ali, no cantinho que está,
sonhando com o dia da volta
sonhando com o dia dessa saudade matar
ele quer novamente tomar sua gengibirra
rever seus parentes
abraças seus amigos
ele quer dançar embaixo daquele barracão
como fez quando criança
ele quer de novo sentir aquela vibraçao
"toca carimbó pra esse povo! Toca!"
"toca que é saudade dançando nesse barracão!"



Comentários

  1. O bom da leitura é deixar a imaginação fluir, enquanto vou lendo, vou imaginando as cenas nos dias do Carimbó. Excelente poesia, parabéns ����

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  2. O bom da leitura é deixar a imaginação fluir, enquanto vou lendo, vou imaginando as cenas nos dias do Carimbó. Excelente poesia, parabéns 👏👏

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  3. O bom da leitura é deixar a imaginação fluir, enquanto vou lendo, vou imaginando as cenas nos dias do Carimbó. Excelente poesia, parabéns 👏👏

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