Mas logo vai passar... mas logo vai voltar...





Tenho me questionado se o frio me deixa depressivo. Sei lá, todo fim de ano é isso quando chega o nosso inverno paraense. Viro para dentro. Sinto um grande vazio dentro de mim. Algo sem explicação aparente. Seria apenas tédio? Ou é o velho fantasma do desajuste social que vivo? Essa coisa de achar que o mundo, e o meu mundo, tal qual ele é, que é o meu problema, logo precisaria ser mudado, ou melhor, revolucionado por uma grande mudança que não saberia dizer como fazer e nem para onde mudar. 

Até quando essa sensação vai continuar?
Ela vem e vai. É um sentimento muito ruim e difícil de descrever precisamente. A ele já procurei dar vários nomes e causas mas nunca consigo realmente defini-lo. Tédio, vazio existencial, desamparo, melancolia, “vicelagem”, trabalho, casamento, covardia, sociedade, o mundo todo louco como é... e por aí vai... Realmente é difícil dizer o que se passa. 

Mas andei lendo Fernando Pessoa e essa mesma coisa estava lá nele... essa coisa que não se nomeia precisamente... Isso também está nas músicas do Raul e do Renato e de alguma forma tentou ser explicada pelo velho e rabugento Shopenhauer.... Isso foi cantado lindamente pelo grande Belchior... Essa coisa trafega ao longo tempo... esse incomodo... 

Essa coisa seria a minha verdade? É ela a constância e a serenidade o intervalo disso? É para se acostumar? Ou há outra coisa por detrás dessa cortina cinza? Isso é um véu mundano que encobre a verdade que anseia pela luz? Há outro jeito de se viver e sentir a vida pulsando sem esse peso que vem e vai? Há como quebrar o pendulo entre a dor e o tédio já observado pelo velho amigo dos cachorros? 

Não sei dizer, só sei sentir isso. Só aprendi a esperar essa coisa ir embora, esse medo infantil de criança sozinha no quarto. Já faz 4 dias que estou incomodado. Quando isso vai passar eu não sei, mas está agora, precisamente agora, apertando meu peito e me fazendo relativizar tudo. Mas logo vai passar... mas logo vai voltar...

Comentários

  1. Que texto meus amigos, que texto!❤����

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  2. É... Acho que vc não sente isso sozinho... Digo, Mais pessoas passam por isso nessa mesma época, só não sei se todas, mas fico refletindo se talvez o tempo não tenha alguma coisa a ver com isso: a chegada do fim, do fechamento do ciclo, nos torna mais reflexivos sobre tudo, sobre o que conquistamos, que passos demos, se estou parado ou em movimento, se é isso pronto e acabou ou se temos novas perspectivas... Se está tudo em ordem ou nada está como sonhamos e devaneamos... é frustante estar na "linha de chegada" e não ter recebido o prêmio! Mas ai que está! Que Prêmio? Que linha de chegada? Quem inventou esse tempo cronológico que zera toda vez reiniciando o sistema ou atualizando para um mais evoluído? Por vezes só acho que devemos encarar como algo natural que vem e vai e que deve servir para algo que traga mudança em nós, como uma reação natural que nos defende de ficar no automático... Às vezes prefiro ficar cinza (consciente) do que me achar como outros felizes e coloridos por fora mas por dentro estão tão vazios e perdidos quanto nós!

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    1. Obrigado pela contribuição meu amigo. Sua análise é muito pertinente e eu tendo a concordar com ela.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. O frio tende a nos fazer mais reflexivos, é verdade, mas a depressão não é algo que se liberte apenas com a mudança no ponteiro do termômetro. Na verdade, o sentimento que se compara a depressão é o incômodo em si, aquela sensação de que há algo anormal conosco, mesmo que a causa não tenha sua origem necessariamente em nós. E isso não é negativo, ao contrário, é um sinal de que estamos em alerta, de que captamos os humores do tempo e respondemos a eles; isso é super importante. Problema seria não termos mais essa capacidade, sermos apenas passageiros a se deixar levar no tempo, sem rumo, dependentes das vontades alheias. O domínio de si nos imporá a infinita necessidade de convivermos com o diferente, com o que ainda virá... e aí está o sentido: reconstruir-se eternamente.

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  5. Parabenizo o autor pelo tema e pela forma poética que foi abordado!
    Talvez o que está escrito abaixo tenha uma fuga ao tema, usando esse contexto de reflexão para uma breve pontuação:

    A cada dia o homem vai se distanciando de sua essência. Hoje o homem se valoriza mais com as conquistas matériais, enquanto somos passageiros! Nos orgulhamos mais pelos nossos bens do que pelo o que temos no coração!"Há felicidade no seu existir?"... O exterior está tomando conta do nosso interior, logo causando desequilíbrio existencial. "Da onde viemos? Para onde vamos?" O homem possui um necessidade vital em se conectar com a origem! Com Deus! Com o criador! Definam da forma que lhe agrada não prego religião alguma, porém vejo com uma visão do campo espiritual. Somos apenas poeiras cósmicas! Não podemos nos aumentar se somos diminutos!

    Ao termina a minha colocação, afirmo que cada comentário feito aqui nessa postagem teve pontos relevantes que me fizeram refletir! "Na NATUREZA Tudo se transforma nada se perde"

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