O papagaio niilista



O papagaio niilista

Os papagaios, aves alegres. Com seus coloridos verde-amarelos, e sua tagarelação, voam entre as arvores e cortam o céu durante o dia, esbanjando a força da vida que cumpre seu papel.

Estas aves espertas como são, tinham um trato, todos os papagaios que habitavam a maior arvore da floresta, a mais frutífera, a mais alta e bela arvore, que dava a melhor vista do nascer e do por do sol, de que, quando atingissem a capacidade de voar e poder aprender alguma palavra, teriam que se aventurar no reino complicado dos “Homo sapiens”, as suas missões eram observar estas criaturas e aprender com elas alguma palavra para compartilhar com o resto do grupo. E assim foi. Muitos foram os papagaios que saiam todas as manhãs para observar de perto os humanos e com eles aprenderem alguma palavra que lhes chamassem a atenção.

Após algum tempo de convivência com os humanos, algumas palavras já começavam a ser ensaiadas no topo da arvore. Além de pronunciar a palavra, cada papagaio tinha que tentar explicar o sentido, a todos os colegas de galho, daquilo que pronunciavam, e assim foram passando longos períodos de conversa, histórias, aprendizados, e tudo mais que vinha dessa aventura diária.

No meio de toda essa euforia verde e amarela, existia um papagaio, que a voltar para arvore, sempre ficava isolado na ponta do galho. Olhando sempre reto, um olhar perdido pro horizonte, martelava em sua cabeça tudo aquilo que ele presenciava em suas observações, e de tudo que via, nada chamava a sua atenção. Ele não via nenhuma palavra proferida pelas pessoas, que realmente despertasse o seu interesse para que ele a trouxesse para a arvore.

E todos os dias este papagaio repetia a tarefa de sair em busca da “palavra” que traria ao grupo. A essa altura, seus colegas já disparavam até grandes frases com aquilo que aprendiam com os humanos. “Amor”, “amizade”, “família”, “legal”, “bonito”... E assim por diante. E o papagaio, ainda calado, entendia o significado explicado em cada palavra, mas não via sentido naquilo. Cada nova palavra trazida ao topo da arvore fazia com que o papagaio, que não falava nada, ficasse mais calado ainda. A cada palavra aprendida, mais o papagaio perdia o seu olhar no horizonte, mas ele refletia. A partir de então, tudo o que ele observava, através da palavra, ele pensava. “Qual o sentido de tudo isso afinal? O por do sol, esta arvore, esta vida!”.

O papagaio, que saio para aprender uma palavra, foi muito além... ele queria o sentido de cada coisa, só reproduzir, não adiantava, ele queria mais. O problema dessa busca de sentido, foi que ele perdeu o seu próprio sentido de ser. Nas suas idas e vindas para a arvore, falava baixinho, apenas pra si, “isso não faz sentido, isso não faz sentido, isso não faz sentido...” Este papagaio, morava na mais bela arvore da floresta. A mais alta. De lá, se via o mais belo nascer e por do sol, de lá se enxergava a grande diversidade que era a vida. E essa história, de se aprender uma palavra com os humanos, se repetia, durante varias gerações, mas o papagaio “calado”, continuava a repeti, “isso não faz sentido, isso não faz sentido, isso não faz sentido...”

Comentários

  1. Helton, excelente a sua reflexão! Até onde nos satisfazemos apenas em repetir o que os outros dizem e fazem? Ou deixamos de contemplar a beleza para procurar um sentido que existe por si mesmo bastando para isso existir a beleza?

    Convido-o a visitar meu blog: amigadaspalavras.blogspot.com

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