O Pequeno Palhaço


O pequeno palhaço, pequenino, já era palhaço e não percebia. Quando moleque, já nos primeiros passos era desastrado, fazia rir quem o via tropeçar nas bordas da própria calça. Sempre bem vestido, envergonhava a família que desde sempre o viam como “grande homem”, homem de negócios, homem da política ou da diplomacia. Mas o pequeno palhaço desde cedo já se percebia na arte do riso. Ria sozinho, ria da vida, ria dos pais, das coisas da vida. A vida sempre foi a sua inspiração. Ele se admirava com tudo e não conseguia esconder a emoção. Cantava para o sol e sempre esperava pela lua. O pequeno palhaço era poeta, ele adorava escrever sobre as dores da vida e fazer disso a sua arte, a poesia que se tornava cena inédita e que ele encenava no palco da vida.

Mas a vida não é só riso, ainda mais a de palhaço. Viver do riso não seria tarefa fácil, ainda mais com um pai, advogado renomado, que traçava desde cedo os passos do palhaço. A vida passando e o palhaço foi aos poucos desaprendendo a ser engraçado, não tinha mais tempo para palhaçadas, tinha que correr atrás de um “status”. Estudar, empreender, fazer sucesso, ganhar e nunca perder. ”Mas que palhaço triste é esse” disse um amigo de tempos afastado, “o que fizestes da tua vida palhaço, de terno e gravata aí sentado?”, o palhaço triste e pelo tempo lapidado, afirmou com um sorriso amarelo e desarranjado: “o palhaço que conhecestes só vale alguns trocados”.

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